Skip to main content

Entre tiroteios, perseguições e interrogatórios. Entre patrulhas, buscas e rosquinhas. Entre Frank Drebin, Chefe Wiggum e Capitão Nascimento. Entre dias e noites de trabalho árduo (ou não), a Weappy Studio recupera seu distintivo e recarrega seu revólver em This is the Police 2, sequência do título cult de mesmo nome.

Ampliando o escopo do primeiro jogo, a sequência traz não somente a gerência de uma delegacia, mas também inclui turnos e a possibilidade de escolher quem vai atender cada umas das ocorrências. Existem também alguns outros trabalhos não tão socialmente aceitos que precisam ser feitos, mas depois entramos em detalhes sobre.

O grande diferencial desta sequência é a possibilidade de controlar os membros da corporação durante grandes missões. Nestes momentos o jogo se modifica e nos encontramos em uma situação de combate tático por turno, com toda a bagagem e as complicações de um departamento de polícia decadente. Se combater o crime em uma cidade já é difícil o suficiente, fazê-lo enquanto metade do seu pessoal são alcoólatras inveterados e a outra metade é temperamental demais deixa tudo ainda mais complicado.

Imagem do jogo ThisIsThePolice2_2
Combater o crime em uma cidade tendo 4 policiais… É… É isso mesmo.

Escrito e dirigido por Quentin Tarantino

Uma história de traição, fugindo de policiais que te acusam de ter uma ficha criminal maior que a de Al Capone. Intrigas governamentais, misturando casos graves de corrupção política e policial, com cada um correndo atrás dos seus próprios objetivos – sempre com uma faca nas costas de quem está ao seu lado. Mistérios que soam cada vez mais mal contados. Uma cidade que parece ter saído de um universo paralelo onde tudo acontece e nada se modifica. O nível de violência simplesmente acima do que qualquer um toma como aceitável por uma corporação cuja lema é “servir e proteger”.

Você volta a viver os dias de Jack Boyd, agora um ex-chefe de polícia. Quem foge da polícia é você. Depois de tudo o que você fez (ou precisou fazer) em Freeburg, a cidade do primeiro jogo, puxaram seu tapete. Agora é matar ou morrer, não só contra os criminosos como também com outros tiras – por mais que essas duas classes tem uma intersecção muito maior do que se deveria.

Aliás, eu sempre quis usar o termo “tiras” pra alguma coisa, e finalmente This Is The Police 2 me permitiu esse momento de glória. Uma adição a se fazer é que o jogo se passa em algum momento que me soou muito como o fim da década de 1980 e o início de 1990, principalmente pelo desejo insaciável dos policiais em aparelhos de VHS.

Imagem do jogo ThisIsThePolice2_3
Que ótimo… Deve ser bom ter esse nível de liberdade no trabalho.

Vendo todas essas situações envolvendo a história, agora dou o devido foco à atuação: As cenas de narrativa entre um dia e outro são contadas parte em histórias em quadrinhos, parte em cenas de baixa fidelidade gráfica. Esse estilo gráfico contribui muito para que nós consigamos construir um universo familiar para cada um dentro do que está sendo contado.

Como nenhum dos personagens tem detalhes nos seus rostos como olhos ou expressões faciais, o grande chamariz vai para a atuação de voz. Não consigo dar outro adjetivo que não seja perfeito. É incrível, a nível de jogos como Uncharted, The Last of Us e Grand Theft Auto.

Não sei se deu pra entender o quão bom é. Vamos deixar mais claro: se não fosse um jogo e sim um filme, por exemplo, poderia facilmente ser indicado à uma pancada de Oscars. E estaria concorrendo fortemente para ganhar, tanto Melhor Ator quanto Melhor Atriz Coadjuvante. Podemos dizer que esse game poderia ter sido, de fato, escrito e dirigido por Quentin Tarantino, mas apesar de não ter sido, é tão bom quanto.

Imagem do jogo ThisIsThePolice2_1
E o vencedor do Oscar de Melhor Ator é…

Corra que a polícia vem aí

Esse nível de realismo em uma delegacia decadente é a maior qualidade de This Is The Police 2, mas também é seu veneno mortal. Por mais que você consiga organizar sua mente para decidir quais policiais trabalharão em cada um dos turnos, chega no próximo dia e metade decide não vir, enquanto a outra metade bebeu demais e vai cagar em tudo o que você mandar fazer.

Conforme o dia vai passando e as ocorrências vão aparecendo, você precisa enviar um grupo de policiais com capacidade suficiente para resolver a situação. Claramente, com a metade restante da corporação que, apesar de aparecer, está bêbada, você é forçado a escolher quais casos são mais graves e precisam ser atendidos.

Imagem do jogo ThisIsThePolice2_5
Selecionar até as palavras de um policial, como se controlasse as cordas de uma marionete.

Independente disso, não atender qualquer ocorrência tem punições absurdas, quase tornando inviável continuar jogando caso você falhe algum caso. Recarregar o dia, às vezes, vale a pena, mas o dia seguinte sempre vai trazer a mesma categoria de problemas. Por mais irritantes que essas situações sejam, não é o maior problema do jogo. A novidade comparando com This Is The Police foi a adição das fases de combate estratégico por turnos. Pois então…

Várias mecânicas interessantes foram adicionadas, como utilizar granadas de atordoamento, sprays de pimenta e prender criminosos, porém o nível de imprevisibilidade e dificuldade torna mesmo a mais simples destas fases absolutamente frustrante. Não me entendam mal, é bem possível que esse estilo de jogo seja bem difícil e ainda seja muito prazeroso jogá-los, mas é preciso que o nível de estratégia e preparações que ele fornece permita que conforme o jogador se torne melhor, o jogo se permita ser dominado.

Imagem do jogo ThisIsThePolice2_4
A sensação que fica é que você precisa fazer absolutamente tudo nessa delegacia.

Entendo que a maneira com a qual essas mecânicas funcionam possam ser uma representação do nível de estrutura atual da delegacia – e nem sei se isso foi proposital ou não. Se cabe a mim analisar, ficaria mais satisfeito se fosse proposital. De qualquer forma, ainda achei estressante demais.

Com tudo isso dito, This Is The Police 2 é um avanço considerável ao primeiro jogo da franquia, aprimorando tudo o que o primeiro trouxe de bom e ampliando em muito o escopo. A continuação da primorosa história com a maravilhosa atuação já faria o jogo valer por si só. O game acaba por não fazer tão bem tudo o que se propõe, mas independente disso, é um título muito recomendável.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024