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Se você já debateu com uma ou mais pessoas sobre jogos que conseguiram nos fazer chorar, é quase certo que já ouviu falar de To the Moon. Lançado originalmente em 2011 (isso mesmo, ele já tem quase nove anos de idade), o título roubou o coração de muita gente em sua época e virou referência de jogos com narrativas envolventes e emocionantes. O mais impressionante é que até hoje ele mantém seu posto, pois não tem um ser que se diga humano que não fique com o coração quentinho após jogar essa joinha rara.

O tempo passou e ninguém quer se esquecer de To the Moon, então é por isso que ele foi relançado para Nintendo Switch com motor gráfico atualizado, totalmente refeito em Unity. Tudo bem que não é nada exuberante, afinal ele ainda mantém seu visual tão característico de RPG Maker, mas ainda é um diferencial bem legal. Se é a primeira vez que você está ouvindo falar sobre este jogo, aperte bem os cintos, pois esta análise vai te conceder uma inesquecível viagem até a lua.

Seu desejo é uma ordem

To the Moon foi um projeto bem pequeno criado por uma única pessoa: Kan Gao. Na época de seu lançamento, foi consideravelmente aclamado devido a sua excelente narrativa e trilha sonora envolvente, mas passou longe de se destacar em qualquer outro aspecto.

Como já citado, a engine utilizada foi o RPG Maker XP, uma plataforma simples de criação de jogos para gente como eu e você brincar de ser dev, e por isso o visual dele é bem precário. Tem seu charme, afinal remete bastante aos clássicos JRPG do Super Nintendo, mas ainda assim deixa a desejar. Mas, mesmo com todas essas limitações, ele ainda entrega uma experiência muito satisfatória nos elementos que puderam ser mais incrementados.

A melancolia reina nos momentos iniciais do jogo.

No jogo, controlamos dois cientistas de uma empresa chamada Sigmund Corp., que realiza os sonhos de pessoas em estado terminal por meio da manipulação de memórias. O cliente da vez é Johnny, um velhinho misterioso com um desejo nada exuberante: ir até a lua! O problema é que ele não faz ideia do porquê quer chegar até lá, assim como as pessoas que viviam com ele. Resta entrarmos em sua mente e revirarmos memória por memória para descobrir mais sobre sua vida e assim poder realizar seu desejo.

Mesmo com todas as limitações gráficas, é incrível o modo como os personagens conseguem ser carismáticos, com ênfase nos dois protagonistas. Enquanto Eva é mais séria e comprometida com seu trabalho, Neil é o alívio cômico da dupla e sempre tenta encaixar alguma piada com um humor muito ácido, por mais que a situação esteja ruim. Eles conseguem transmitir perfeitamente sua personalidade e não demora muito para você gostar deles – e olha que o jogo nem possui dublagem!

Algumas pessoas podem achar a falta de vozes nos diálogos um problema, mas para mim não fez falta alguma. O visual remete à jogos antigos que também não tinham dublagem, então não será algo que vai atrapalhar a qualidade do enredo ou sua imersão. Além do mais, essa versão veio localizada em português! Finalmente todos podem desfrutar da história com tradução oficial, o que é ótimo para aqueles que não conseguiram aproveitar o original por não entender inglês.

Temos que ir mais fundo

Agora que já ficou bem claro que o destaque de To the Moon fica exclusivamente em sua história, fica a pergunta: o que a torna tão boa? Como um joguinho “bobo” desses vai conseguir te fazer chorar? A partir do momento que adentramos as memórias de Johnny e pouco a pouco vamos descobrindo mais sobre seu passado, também percebemos que os gráficos pouco importam ao transmitir a mensagem proposta pelo criador.

Vasculhar as memórias de Johnny é a melhor parte do jogo.

Ali estamos vivenciando a história de uma pessoa normal, que assim como nós já passou por altos e baixos, comemorou conquistas e sofreu perdas nas idas e vindas da vida. São essas pequenas coisas que criam uma ponte entre o jogador e aqueles personagens, fazendo com que nos identifiquemos com várias situações apresentadas ali e nos emocionemos com um final que consegue arrancar lágrimas de qualquer um.

Quando estamos explorando a mente de Johnny, veremos suas memórias em ordem decrescente, ou seja, das mais recentes para as mais antigas. Nosso objetivo é chegar até sua infância, onde poderemos convencê-lo a ser um astronauta e assim realizar seu desejo de ir à lua. Em cada trecho devemos procurar mementos, ou seja, objetos importantes relacionados ao personagem que possam abrir um portal para a próxima memória. Sempre haverá um pequeno puzzle a ser resolvido entre uma memória e outra, mas todos são muito simples e não acrescentam nenhum tipo de desafio ao jogo.

Em minha experiência pessoal, posso afirmar que esses trechos de explorar memórias são de longe a melhor parte de To the Moon. Tudo funciona como um grande quebra-cabeça onde cada pequeno detalhe revela uma nova informação importante sobre Johnny, te deixando louco para continuar jogando e descobrindo mais. Infelizmente tudo que é bom dura pouco e a campanha só tem quatro horas de duração, mas acho que é o ideal para esse tipo de jogo e garanto que são quatro horas que vão passar voando.

Mesmo abordando temas sérios, o jogo ainda acha tempo para ser descontraído.

Para finalizar, a trilha sonora coroa os momentos emocionantes com perfeição. Quase todas as faixas são tocadas em piano, que acredito ser o instrumento ideal para transmitir uma grande carga emocional. Aliás, uma pequena curiosidade: a trilha sonora foi a única coisa que Kan Gao não fez sozinho para o jogo, sendo ajudado por Laura Shigihara, que também teve participação nas trilhas de jogos como Minecraft, World of Warcraft, Plants vs Zombies e Super Meat Boy.

Isso é To the Moon. Não espere gráficos surreais ou mecânicas inovadoras, apenas uma boa história com personagens envolventes e um final comovente. Esse port de Switch é a oportunidade perfeita para conhecer o jogo ou até revisitá-lo. Sendo sua primeira vez ou não, espero que todos possam se encantar com a história de Johnny tanto quanto eu.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024