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Quem teve um Mega Drive, com certeza jogou ToeJam & Earl. Quem não teve, talvez tenha jogado na casa de amigo ou em uma locadora pagando a hora. Na época, o jogo criado pelo designer Greg Johnson e lançado pela Sega em 1991, era tão popular quanto Sonic e Altered Beast. Chegou a render uma continuação dois anos depois, o fraco ToeJam & Earl in Panic on Funkotron, e um terceiro game em 3D e ainda pior, chamado ToeJam & Earl III: Mission to Earth (Xbox). Back in the Groove chega como um revival, para matar a saudade dos fãs da dupla de alienígenas e apresentar a franquia aos novos jogadores.

Se não fosse pelo apoio dos fãs, que contribuíram para o sucesso da campanha de financiamento coletivo no Kickstarter em 2015, este quarto game não existiria. Greg abriu uma nova empresa, a HumaNature Studios, e pediu 400 mil dólares na campanha. Conseguiu ultrapassar a meta arrecadando mais de 500 mil e, mesmo assim, passou por maus bocados durante o desenvolvimento: houveram atrasos e perderam até mesmo o apoio da distribuidora Adult Swim Games, que antes havia entrado com aporte financeiro. Após muita turbulência ao longo de quase quatro anos, o jogo finalmente ficou pronto.

À moda antiga, mas com excessos

Expectativa é um negócio complicado. O garotinho em mim ansiava por um novo ToeJam & Earl e, enquanto instalava o jogo no Switch, eu tremia de felicidade. Não era questão de hype, pois eu já esperava um game simples feito à moda antiga, utilizando a mesma fórmula. Era apenas um desejo particular de matar saudades de um clássico que marcou minha infância. Mas quando finalmente comecei a jogar, inicialmente sozinho, minha felicidade foi diminuindo gradativamente.

Imagem do jogo ToeJam & Earl: Back in the Groove
Mesmo com 4 jogadores, a tela se mescla quando necessário.

É o mesmo jogo, com os mesmos protagonistas e o mesmo objetivo. O que poderia dar errado? Bem… Pense na preocupação em agradar os fãs e os novos jogadores ao mesmo tempo. Agora pense na pressão em oferecer novidades em um game que, tecnicamente falando, era redondinho. ToeJam & Earl: Back in the Groove pode ser descrito como um canivete suíço que, apesar de possuir todas as ferramentas necessárias, também oferece um martelo, uma escova de dente elétrica e um secador de cabelo. Não deixa de ser um canivete suíço, mas que não esconde a aparência de gambiarra.

A trama é basicamente a mesma: o alienígena vermelho de três pernas ToeJam e seu parceiro fora de peso Earl, acompanhados das namoradas Lewanda e Latisha, estão viajando quando um acidente ocorre. Caindo na Terra, o objetivo é procurar as 10 partes da nave para poder voltar para Funkotron, planeta onde vivem. Para sobreviver às maluquices dos terráqueos, o jogador utiliza presentes como itens que podem tanto ajudar quanto atrapalhar. Tênis com molas, estilingue de tomates, tinta invisível, portas para locais aleatórios, nuvem de chuva que dispara raios em você, tem um pouco de tudo.

As fases funcionam como níveis, apresentadas em forma de ilhas flutuantes e com um mapa que vai abrindo conforme a exploração. Se houver uma peça da nave no nível, haverá um indicador para o jogador ficar atento. Se não houver, basta procurar um elevador para subir para o nível seguinte. Pode parecer simples, mas para aqueles que nunca jogaram é inevitável não entender nada. Mesmo oferecendo um tutorial, o jogo falha em explicar sua própria mecânica passo a passo. Para entender tudo, você terá que ler uma longa página explicativa disponível no menu inicial.

Imagem do jogo ToeJam & Earl: Back in the Groove
Com as asas de Ícaro, fica fácil encontrar qualquer coisa.

Feito o tutorial você pode encarar o mundo fixo, que apresenta mais níveis e adversidades. Como o próprio nome indica, o formato dos níveis e a posição dos inimigos e aliados são pré-definidos. Após terminar este modo você desbloqueia o mundo aleatório, que cria níveis e posiciona seus habitantes de forma procedural. Ao terminar este modo, um mundo aleatório difícil é desbloqueado. Seria o modo ideal se o “difícil” não fosse apenas um texto de enfeite, já que o jogo continua fácil e rápido de terminar. Em co-op então, disponível para até quatro jogadores, fica suave na nave.

Facilidades além da conta

A duração do jogo mantem-se à risca do título original, o que é um problemão para a atual geração. Aqui sim poderia ter rolado uma grande mudança na fórmula, oferendo níveis mais extensos e complicados para explorar, assim estendendo a vida útil do jogo. Até há níveis mais amplos para explorar, mas não o suficiente para comportar as múltiplas adições feitas. Há novos terráqueos aliados e inimigos, bem como novos minigames e o retorno do Hyper Funk Zone: uma fase bônus em que você corre por obstáculos coletando presentes, XP e tempo extra pelo caminho. Infelizmente, é um minigame que deveria ter ficado intacto em ToeJam & Earl in Panic on Funkotron, já que o visual e gameplay são horríveis.

Os novos aliados incluem Gandhi, que o protege dos inimigos enquanto estiver por perto, um grupo de cosplayers, que joga um dado de RPG para definir se você ganha ou não um bônus, e um chef que faz sushis para recuperar sua energia. A maioria deles pede uma grana em troca, mas dinheiro você encontra fácil a todo momento. Quanto aos inimigos, o diabinho, o cupido, o caminhão de sorvete, a garota hula-lula, as galinhas, entre outros exemplos, continuam presentes. Junto estão outros novos, como o troll de internet e o guarda gordo que utiliza uma scooter elétrica. Porém, não passam de versões de inimigos que já existiam: o cupido e o troll de internet atacam da mesma forma, causando a inversão dos controles. O pesquisador voluntário, outro inimigo inédito, é uma versão do rebanho de nerds que te persegue no game original.

Imagem do jogo ToeJam & Earl: Back in the Groove
Vale tudo: dois cientistas ao mesmo tempo e um minigame de dança zoado.

Além da super lotação de NPCs a cada nível acessado, o jogo adiciona atributos às personagens. Conforme explora, encontra coisas e usa os presentes, você junta XP para depois trocar por uma promoção falando com um homem vestido de cenoura. Aleatoriamente, você aumenta pontos de velocidade, sorte, tamanho do inventário, entre outras coisas totalmente desnecessárias. Dá tranquilamente pra terminar o game sem fazer qualquer upgrade. E embora você junte dinheiro procurando em arbustos, árvores, casas e pegando do chão, você também gastará muito pouco. Fora a abundância de presentes e comida pra todo lado, você dispõe de vidas.

Tem mais: adicionaram fases noturnas que não alteram o gameplay e enfiaram um minigame horrível de dança, cujo ritmo é simples demais e não soa bonito. E ao terminar o game você ganha chapéus com poderes, que concedem habilidades para usar a cada nível acessado. Sim, mais vantagens em um jogo que já sofre com a total falta de desafio. Mesmo que cada personagem comece com atributos iniciais distintos, eles não fazem a menor diferença na experiência. Bastava a tela de escolha e pronto: além das namoradas e versões (clássicas, novas e alternativas) de ToeJam e Earl, você pode jogar com o alien verde de três olhos Peabo – retornando do segundo game.

Imagem do jogo ToeJam & Earl: Back in the Groove
Geek Jam e Flo são as versões alternativas de TJ e Earl, para destravar em Funkotron.

Jogando com um amigo, a frustração foi compartilhada em tela dividida. Ficou ainda mais fácil achar as peças e driblar os inimigos, pulando de nível em nível em questão de minutos. Agora imagine isso rolando com quatro jogadores ao mesmo tempo. O tédio na cara do meu amigo ficou rapidamente evidente, o que me deixou bem triste. Meu desejo era apresentar este game à todo mundo que não conhece a franquia. Ele tem sim suas qualidades, como a dublagem e a regravação das músicas clássicas. Mas ver esse mar de excessos e a escolha infeliz para o visual, inclusive com animações extremamente preguiçosas, acaba com qualquer vontade de jogar.

Faltou empenho, criatividade e carinho por parte da HumaNature Studios. Sabe The Banner Saga 3? Foi financiado no Kickstarter com menos dinheiro e a Stoic entregou antes do prazo estimado, em menos de 2 anos. Não há desculpas para um jogo tão insosso como este, ainda mais após o apoio fervoroso dos fãs que financiaram o projeto – os que mais contribuíram viraram personagens no game, encontrados em ilhotas. A título de curiosidade, vale sim a conferida. Mas se tratando de um clássico que marcou toda uma geração, eu esperava mais. Ou melhor, menos… O excesso de adições desnecessárias é o principal vilão de ToeJam & Earl: Back in the Groove.

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