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O meu tempo é valioso e o seu provavelmente também é, então fica o aviso: Touring Karts é uma das maiores aberrações que já vi na história dos vídeo games. Se algum dia eu duvidei das análises do Steam, foi o dia que eu vi que Touring Karts tinha avaliações positivas por lá. Nada, absolutamente nada se salva nesse jogo.

Do estúdio espanhol Ivanovich Games, responsável por projetos de VR como Final Soccer VR, Operation Warcade e Beat Blaster (não reconheceu nenhum? Pois é), Touring Karts se apoia na boa e velha fórmula de corrida de karts com drifts e itens que podem ser atirados nos oponentes. O game não exige o uso de VR (a versão testada aqui foi a de PS4, com PSVR) e é louvável o esforço do estúdio em lançar o jogo com compatibilidade para quase todos os headsets VR mais populares, como Valve Index, HTC Vive, Oculus Rift e aqueles do padrão WIndows Mixed Reality, como os lançados pela Acer e Samsung. Mas só isso é louvável mesmo, porque como jogo, Touring Karts é um desastre.

O pior jogo de VR da história?

Em primeiro lugar, eu não tenho a menor pretensão de comparar um jogo independente e obscuro, feito por poucas pessoas, com uma produção AAA da Nintendo ou da Sega – e estou falando de Mario Kart e Sonic Team Racing mesmo, porque quando a gente pensa em jogo de kart com armas, esses vêm à cabeça. Ignorando as comparações e relevando o fato de ser um jogo indie, enaltecendo o fato de terem feito tudo isso com compatibilidade (e para PSVR também, possivelmente o mais “popular” de todos), realmente, Touring Karts é horrível.

Antes de entrar nas características do game em VR, é importante saber que ele é totalmente jogável sem VR, e assim como em Wipeout Omega Collection, dá para jogar o game inteiro sem o acessório. Sem VR, você já percebe que o game não é lá essas coisas em nenhum aspecto, e o primeiro impacto é o visual: o jogo é compatível com HDR (tanto no PS4 Pro quanto no Slim), mas não oferece absolutamente nenhuma opção de calibração da imagem.

Não contentes em simplesmente atirar um sinal HDR sem oferecer qualquer possibilidade de correção para o usuário (o que é necessário dependendo das capacidades da tela e do tipo de tela), os desenvolvedores ainda entregaram uma implantação totalmente errada do HDR: aqui, é apenas um sinal SDR expandido para a gama de cores HDR, o que quer dizer que a imagem toda tem um brilho absurdamente alto e que não faz nada para enaltecer os detalhes. Não que o jogo de luz do game seja magnífico (não há efeitos de luz, já que toda a luz ilumina todo o cenário a todo tempo), mas a única consequência disso é que seus olhos irão arder. Dá para ir no menu do PS4 e desativar o HDR, mas em uma era em que jogos aproveitam muito bem o HDR ou simplesmente não oferecem essa opção, Touring Karts deveria ter omitido essa possibilidade em vez de passar vergonha.

Ai, meus olhos…

Em VR, seus olhos irão arder de novo, já que a Ivanovich Games optou por utilizar uma resolução maior do que a que vemos usualmente em jogos de PSVR, mas sem qualquer pós-processamento gráfico. Não há o blur ou os filtros que são aplicados em texturas como vemos em basicamente qualquer jogo de VR para a plataforma da Sony e que “mascaram” a baixa resolução. Todo esse lance de filtros e blur funciona muito bem nos outros jogos que têm opção de serem totalmente jogáveis tanto em VR como sem, desde Resident Evil 7 até o já citado (e excelente) Wipeout Omega Collection.

Mas Touring Karts não tem nada disso. As texturas chapadas continuam chapadas, só que literalmente na sua cara. Já falei no parágrafo de cima sobre o uso de filtros servirem para esconder a baixa resolução, e essa baixa resolução no PSVR acontece porque os jogos precisam rodar a, no mínimo, 60 quadros por segundo a todo tempo, e isso de acordo com uma diretriz da Sony divulgada lá na época do lançamento do headset.

Só que o nosso joguinho de Kart falha miseravelmente nisso, já que ele quase nunca consegue manter uma taxa de quadros estável. A quase todo momento você percebe as quedas, e nada (e eu vou repetir), nada mesmo é pior que do que queda de FPS em VR. Controles ruins? Dá para acostumar. Gráficos feios? Ok, a gente releva. Mas taxa de quadros por segundo instável é de acabar com o jogo. Não dá mesmo. Dois dias depois do lançamento, apareceu uma mensagem no game avisando que um novo patch, para sair dali um dia, arrumaria problemas com “pixelização”. Quando o patch saiu, a mensagem era de que ele melhoraria o anti-aliasing em VR. Mas joguei novamente e não percebi nada de novo.

Controles, ou falta deles

Em Touring Kars, os controles não são exatamente ruins, mas são muito simplórios. O drift, acionado apertando acelerador e freio ao mesmo (comprovando que aqui realmente não existe física), não serve para basicamente nada, já que dá para contornar todas as curvas tirando o pé (ou o dedo?) do acelerador. É possível utilizar o PS Move (não testei) e também o Dual Shock 4 no modo “volante”, aproveitando o recurso de acelerômetro. Não consegui utilizar esse modo por mais de uma volta, pois ele simplesmente não funciona direito. Portanto, para quem for se aventurar, a recomendação é utilizar a opção de controle apenas pelo Dual Shock 4.

Como em games de kart que se prezem, Touring Karts tem itens espalhados pela pista e que podem ser pegos e atirados contra os inimigos. São itens no mínimo curiosos, como um copo (é, um copo, com canudo e tudo), e um cubo. Tem banana também, que talvez seja o item mais comum. Além dos itens, há perigos do cenário como um macaco que fica atirando galinhas nos pilotos. Um macaco que atira galinhas? Se o jogo tivesse dado algum contexto sobre isso eu até entenderia, mas é extremamente bizarro ter um macaco que fica no meio do cenário jogando macacos nos pilotos.

Ao total são 22 pistas baseadas em países, como Estados Unidos, Canadá, China, Rússia e Brasil, que possui como tema de cenário um Cristo Redentor horrivelmente estilizado, no nível que faria a prefeitura do Rio de Janeiro enviar um ofício aos produtores solicitando um pedido de desculpas. Todas as pistas são muito parecidos e feias, com fundos que parecem um papel de parede em bitmap de baixa resolução. As cores e quase todos os objetos são comuns entre os cenários.

Não faz muita diferença jogar no Bahrein ou na Espanha, já que os traçados também são muito parecidos. Não vou reclamar do fato de reaproveitarem músicas em várias das pistas. É o que todo mundo faz e, se a música for boa, não tem problema. Aqui, eu considero as músicas ruins e pouco inspiradas, com o agravante de que os efeitos sonoros são pessimamente mixados, então você acaba ouvindo apenas a música mesmo.

Uma vez visto…

Eu não conheço os procedimentos de certificação de um jogo na PSN, tampouco sei das condições de trabalho dos bravos funcionários do pequeno estúdio espanhol Ivanovich Games, mas a gente sabe que se o horrendo The Life of Black Tiger conseguiu ser certificado e comercializado (e é considerado por boa parte da imprensa como um dos piores jogos já lançados para PS4, talvez um dos piores de todos os tempos), então qualquer um consegue. Touring Karts conseguiu e, infelizmente, está lá disponível para todo mundo que quiser comprar.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024