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Nunca passei de meio copo de caipirinha antes de sentir que já era hora de parar, mas aceitei o desafio de encarar de frente um jogo chamado Trago. A primeira produção comercial da SpaceGiraff3 acompanha os dilemas de Juca, o mosca de bar de plantão que, entre várias doses de birita, precisa desvendar um intrincado novelo e chegar vivo ao final da aventura.

Não é necessário dizer que a desenvolvedora é brasileira: as pistas estão no nome do bar, que também dá nome ao jogo, nas conversas entre os personagens e no jogo de futebol rolando na telinha da TV pendurada no teto. Para todos os efeitos, Trago transporta o jogador para uma realidade que muita gente conhece dos finais de semana, acrescentando a ela mini-jogos e exigindo a atenção de quem deseja explorar todos os finais possíveis.

Imagem do jogo Trago
Vira, vira, vira, vira, vira, vira… virou!”

Beber até morrer é a solução?

Vamos colocar logo as cartas na mesa, ou melhor, no balcão: Trago é um jogo que você pode atravessar de ponta a ponta em 15 minutos. No entanto, o que parece ridiculamente curto se revela mais complexo quando você descobre que, a menos que Baco tenha abençoado suas decisões pessoalmente, não atingirá o melhor final possível de primeira. Muito provavelmente não atingirá o melhor final na segunda tentativa tampouco. Além disso, o final padrão para a história não é agradável de se testemunhar.

Para explorar todas as possibilidades, o jogador precisa ativar conversações com os outros frequentadores de um bar em uma única tela, ao longo de quatro noites seguidas. Também é possível falar com pessoas fora da cena pelo telefone, e é aí que entra a bebida: Juca é um fracassado e só consegue tomar a coragem de ligar para as pessoas se encher a cara. A SpaceGiraff3 colocou então um mini-jogo maroto para virar o copo, no qual se deve apertar as teclas na sequência certa. É claro que a sequência fica mais complicada com cada gole ingerido, mas nada que chegue a atrapalhar demais a experiência.

Imagem do jogo Trago
Um jogo com verdades duras…

Em um intervalo de tempo contado (que pode ser reduzido ou acelerado pelo jogador e funciona como um controle de dificuldade), é necessário desvendar que interações fornecerão informações ou desdobrar caminhos para novas interações que serão fundamentais para mudar o destino marcado do pobre Juca. Desse gerenciamento da narrativa, brota a jogabilidade cheia de escolhas: encher a cara e ligar para as pessoas certas, interagir com a televisão, interagir com a moça atrás do balcão, falar com o misterioso Carlos ou procurar novas possibilidades no cenário? Nesse sentido, Trago funciona como um adventure com cronômetro e uma temática bem brasileira.

Feitiço do tempo

Uma vez que apenas uma fração muito reduzida dos jogadores chegará ao melhor final de primeira, Trago encontra aí sua principal maldição: a cansativa repetição, sessão após sessão, dos mesmos quinze minutos, com pequenas mudanças, como se estivéssemos presos em uma meta-narrativa e condenados a cometer os mesmos erros na busca de redenção. A SpaceGiraff3 sabe que o jogador insatisfeito vai explorar os limites do jogo e nos contempla com algumas conquistas desbloqueadas, mas a sensação final é a de que faltou um pouco mais de substância a esse coquetel.

Imagem do jogo Trago
Ministério da Saúde adverte!

A proposta de um enredo que precisa ser arrancado com pinga é louvável, conseguindo em um intervalo de tempo muito pequeno condensar diferentes tramas. Entretanto, assim como a boemia, Trago não é para todos os gostos. Alguns cliques não muito precisos na interface não chegam a atrapalhar a experiência, mas são um aspecto que poderia ser melhorado e o que faz falta em conteúdo aqui é compensado com gráficos simpáticos, que lembram histórias em quadrinhos.

Entre um gole e outro e custando menos que uma bebida de verdade no boteco da sua esquina, Trago se mostra uma experiência narrativa que revela o grande potencial da SpaceGiraff3 e do nosso cotidiano para gerar histórias bastante humanas.

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