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É incrível como a indústria de games cresce em um ritmo tão absurdo. Em apenas quatro décadas houve tanta evolução e uma infinidade de jogos de todo tipo que, quando pensamos se é realmente possível ver algo novo hoje em dia, a resposta é automática: “É claro que não! Já inventaram de tudo!”. Se não dá pra criar, o que resta é mesclar elementos de outros jogos em um novo e assim criar algo único com nada realmente inédito. Digamos que isso fica bem mais difícil quando se trata de um jogo de corrida.

Trailblazers (não é o time da NBA), dos britânicos da Supergonk em parceria com a Rising Star Games (que já publicou desde Harvest Moon até Deadly Premonition) é um desses jogos que pegam emprestadas as ideias de outros títulos e as expande em outras marés. Pegue Table Top Racing, Rock n’ Roll Racing e Splatoon – isso mesmo, Splatoon – e bata tudo no liquidificador. O resultado é algo inusitado, mas bem interessante.

Corrida intergaláctica

Já seguindo uma onda diferente dos jogos convencionais de corrida, Trailblazers tem um modo história onde controlaremos diversos personagens ao longo de mais de 50 corridas. Eu sei, é um número mais do que alto, mas é tudo muito rápido considerando que cada corrida mal toma 3 minutos do seu tempo e nenhum capítulo passa do limite de duas corridas.

O Trailblazers é um torneio intergaláctico disputado por seres de vários planetas e raças diferentes, que competem por dinheiro e também por fama e prestígio. O diferencial deste torneio é que os corredores disputam em equipes, e cada uma delas é representada por uma cor, com a qual se pinta a pista para ganhar vantagens ao longo do percurso. Entenderam o porquê do Splatoon agora? Essa é a proposta do jogo: misturar o clássico estilo de corrida arcade com o uso de tinta do game da Nintendo, permitindo que o jogador pinte a pista para ficar mais rápido no trajeto.

Os personagens se comunicam com balões de diálogos e grunhidos.

Temos oito personagens jogáveis e o diferencial de cada um está em seus três atributos: Trilhas (o quanto ele consegue pintar a pista antes de recarregar), Impulso (o quão rápido ele fica ao dirigir sob sua trilha de tinta) e Manuseio (o quão prática pode ser a condução do carro). O modo história não possui um modo arcade com uma campanha para cada personagem, mas nele você controlará todos eles. Cada um possui seus respectivos capítulos e todos contribuem com o enredo do jogo, que vamos descobrindo pouco a pouco, migalha por migalha, a cada capítulo concluído.

O legal disso tudo é que os personagens possuem um passado e personalidades próprias, interagindo entre si em pequenos diálogos no começo e no final das corridas e contando mais de suas motivações. Não é nada muito profundo, afinal cada diálogo mal chega a 5 falas, mas é legal ver que os desenvolvedores se deram ao trabalho de não colocar todo mundo ali como um único ser arrogante obcecado por vitórias.

Os últimos serão os primeiros

Trailblazers não segue um sistema de progresso comum, como estamos acostumados nos jogos de corrida. Se você já chegar com o intuito de vencer todas as corridas em primeiro lugar, vai se surpreender ao ver que não é apenas isso que fará você progredir no jogo, e também vai ver logo de cara que não é tão simples vencer sempre, dada a terrível maneabilidade do carro.

Nem sempre é tão fácil garantir os 3 Tokens de uma corrida.

Se não devemos chegar em primeiro, como se progride então? Cada corrida contará com 3 Tokens (ou medalhas), as quais podem ser conquistadas ao cumprir os objetivos dados naquela determinada corrida. Por exemplo: vença 1 volta em primeiro lugar, vença na frente de tal personagem e complete uma volta em tempo X. Completando essas três missões no capítulo, você ganha os 3 Tokens, mas não é necessário conquistar todas para progredir. Conquistar apenas 1 Token já te abre caminho para o próximo capítulo, então não precisa entrar em pânico e ficar com medo de empacar porque sempre haverá algum objetivo mais acessível em todas as corridas – que podem variar desde as convencionais, contra oponentes, ou até contra o tempo.

Mas não vá pensando que vencer neste jogo é mamão com açúcar. Primeiro detalhe: sua tinta não é infinita. Você tem uma barra localizada na parte superior da tela que indica quando você pode pintar o chão ou atirar uma rajada de tinta, e que se preenche sozinha com o tempo. Também não existem caixas com armadilhas para atirarmos nos oponentes, como é de costume nesse tipo de jogo. Seu único ataque aqui é a rajada de tinta, que você atira para frente e torce pra acertar algum carro inimigo, o que não ajuda muito já que eles apenas rodopiam por uns 2 segundos e já continuam correndo.

Dando uma corzinha.

Assim como você pode pintar o chão, seus oponentes também podem e logo toda a pista já será uma grande mistureba de cores. Correr em cima da sua cor garantirá um crescente boost de velocidade, que aumenta cada vez mais caso consiga se manter sobre aquela cor, mas é claro que sempre vão cortar sua trilha no meio com outra cor e quebrar seu combo. Esse é o total atrativo do jogo e nem chega a ser a parte difícil, porque como dito antes, pilotar é o verdadeiro desafio.

Nenhum carro no jogo tem rodas, eles apenas flutuam, então logo já podemos notar que não dá pra fazer drift e por isso as curvas são o maior terror dos jogadores de Trailblazers. Todas as pistas são repletas de caminhos divididos que te obrigam a pensar rápido, tomando um deles o quanto antes para não bater, e não poder fazer uma curva decente é doloroso e muitas vezes vai te custar algumas posições. Até o ato de dar ré é uma coisa indescritível, que devia ser outra mecânica muito mais plástica e funcional, considerando que constantemente você baterá ou será jogado pra fora da pista, assim devendo virar o carro de alguma forma.

Falando em bater, não dá para esperar uma física realista de um jogo desses, porém bater o carro é a coisa mais artificial e sem graça que se vê aqui. O carro não reage à nada, ele simplesmente para e daí é você quem tem que se virar pra tirar ele dali. Mas não tema, porque além do modo história temos um modo de corridas customizáveis, onde podemos jogar com o personagem que quisermos, na pista que quisermos e nas condições que bem entendermos. Você pode muito bem correr sozinho e conhecer melhor cada pista para assim não passar tanto sufoco na campanha. Não que isso seja muito divertido, porque a vida útil de Trailblazers não é lá essas coisas, então é bem capaz que você jogue 2 horas e já fique enjoado daquilo tudo.

Que carro feio…

Para estender a duração do game e dar um desafio a mais pros profissionais, temos um modo online para se aventurar contra outros jogadores – uma pena que poucos estejam jogando este título atualmente, mas você ainda pode jogar com seus amigos em split-screen. Há uma variedade de 10 pistas, das quais nenhuma é grande coisa e muitas são bem parecidas, tanto no percurso quanto no cenário, então a sensação de estar sempre jogando a mesma coisa é inevitável. A repetição não fica apenas nas pistas, pois o visual dos carros também não me agradaram em nada, sempre parecendo os mesmos, só alterando a cor e alguns detalhezinhos. Pelo menos acertaram nas músicas, onde somos acompanhados por uma trilha sonora eletrônica e bem animada que lembra bastante LittleBigPlanet Karting.

Trailblazers é um jogo com uma proposta interessante, mas que não consegue se manter por muito tempo. Para os que ousarem se aventurar até o final da campanha, é bem capaz que sua aventura ficará por ali mesmo, e a obtenção dos mais de 200 Tokens ficarão por conta e risco dos jogadores que se amarram nas conquistas. Para os amantes de corrida arcade, vale a pena dar uma chance, mas não com o preço atual. Saindo por R$53 reais na Live e Steam e pelo absurdo de R$107,50 na PlayStation Store, o melhor é esperar uma promoção das boas antes de adquiri-lo. Caso você seja um jogador paciente, até recomendo deixar a poeira baixar e esperar bastante, pois é o tipo de jogo que costuma ser dado de cortesia para os assinantes da PlayStation Plus e Xbox Live Gold.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024