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Às vezes é preciso dar um passo para trás para dar dois para frente. Parece uma frase da sua tia, mas é o que aconteceu com Trine: depois de dois excelentes jogos com movimentação em 2D, a série teve um terceiro capítulo (The Artifacts of Power, de 2015) com movimentação mais livre e que não foi tão bem recebido. Para a quarta versão, a Frozenbyte ouviu os fãs, voltou às origens e entregou em Trine 4: The Nightmare Prince um jogo seguro, sem grandes ousadias, mas que mantém o excelente nível dos dois primeiros Trine.

É mais do mesmo, mesmo

Quem nunca jogou algum Trine (e os antigos sempre são alvo de boas promoções no Steam) pode descobrir mais sobre a série na nossa análise da compilação Trine: The Ultimate Collection, que chegou às lojas para Xbox One, Switch, PS4 e PC no dia do lançamento deste Trine 4. Basicamente, é um game de plataforma e quebra-cabeça com perspectiva 2D e uma ambientação meio fantasiosa, mas com um estilo gráfico que salta aos olhos. Todos eles são bonitos demais e abusam de efeitos de “blooming” para enfatizar as cores, mas sem deixar de lado os detalhes formados por sombras e reflexos dos cenários. Dando uma exagerada, é como se Ori and the Blind Forest tivesse um filho com Ico.

Ainda falando em gráficos, em uma decisão no mínimo estranha e que beira o inexplicável, a Frozenbtye decidiu lançar o game com otimizações para o Xbox One X, mas não para o PS4 Pro. Não temos os equipamentos necessários para medir com precisão o desempenho, mas o próprio estúdio já informou que no One X o game roda acima de 1080p, mas não chega a 4K, e em uma resolução dinâmica que permite que a taxa de quadros por segundo se mantenha estável na casa dos 60 fps. O fato é que sim, Trine 4: The Nightmare Prince roda a 60 quadros por segundo bem estáveis, e não dá para perceber as mudanças na resolução dinâmica.

Imagem do jogo Trine 4: The Nightmare Prince
A Frozenbyte continua sabendo como fazer um game bonito.

Em Trine 4, os nossos três heróis (que podem ser trocados a qualquer momento pelo jogador desde a primeira fase) são os mesmos das versões anteriores. Amadeus é o mago (ou seria feiticeiro? Deixo em aberto porque não quero ofender nenhuma das duas classes nesta análise…) que pode conjurar um caixote (apenas um por vez) e também tem a habilidade de movimentar certos elementos do cenário, como se usasse a “força” mesmo.

Dependendo do quebra cabeça, você pode precisar mover uma ponte, ou mover uma passagem e colocar o caixote embaixo dela para conseguir passar, e coisas desse tipo. Desta vez, a habilidade de conjurar o caixote de Amadeus está mais simples, funcionando ao toque de um botão, em vez do velho esquema de segurar um botão e fazer o movimento do “quadrado” com o segundo analógico ou com o mouse. É uma mudança sutil, mas bem-vinda. A novidade havia sido introduzida ainda em Trine 3, mas em 2D é a primeira vez que ela aparece.

Zoya, a ladra, também possui as mesmas habilidades dos outros games, podendo utilizar a flecha para atingir inimigos e certos objetos interativos do cenário e uma espécie de arpão que pode ser usado para puxar objetos ou mesmo fixar objetos em partes do cenário. Já Pontius, o cavaleiro, adivinha só: também possui as mesmas habilidades básicas dos outros games, que é a de atingir inimigos com a espada, empurrar pedras para quebrar partes do cenário, e um tipo de “stomp attack” que pode ser acionado quando nosso herói está no meio de um pulo.

Imagem do jogo Trine 4: The Nightmare Prince
Um tipo de puzzle é esse aí, de refletir luz com o escudo do nosso amigo Pontius.

Em time que está ganhando… sério?

Quer dizer, mecanicamente, Trine 4 é bem parecido com os antecessores. Alguns (ou muitos?) quebra-cabeças são belos repetecos de algumas passagens já vistas em Trine 1 e 2 – e dá para entender essa escolha porque talvez o objetivo da Frozenbyte seja mesmo atrair quem nunca viu nem jogou um Trine na vida. Para quem já acompanha a série, os primeiros dois dos cinco atos são até relativamente fáceis, e depois disso, a curva de aprendizado sobe exponencialmente.

Para jogar Trine, além de pensar bem em como resolver os quebra-cabeças, é preciso principalmente ter uma certa “malícia”, já que às vezes vai ser necessário, por exemplo, jogar uma pedra do alto e trocar de personagem rapidamente e aí subir em cima dela… é como se as soluções de alguns quebra-cabeças fossem basicamente tentar chegar o mais próximo possível de “quebrar” o design do game.

Como novidade, há mais trechos de ação, em que os personagens enfrentam outros inimigos na mesma tela, e alguns chefes, mas essas situações parecem estar ali mais para quebrar o ritmo de puzzle atrás de puzzle mesmo. Na maioria das vezes, era espadada com o Pontius e flechada de longe com a Zoya para resolver a parada, geralmente contra os mesmos tipos de inimigo. Com o tempo, fica meio repetitivo.

Imagem do jogo Trine 4: The Nightmare Prince
Não vai me quebrar esse lustre, Amadeus…

Vale pelo multiplayer

Quem tiver amigos para jogar poderá ter uma vida mais fácil com os quebra-cabeças. Aliás, nesse ponto a Frozenbyte mostra que o design das fases é soberbo mesmo: dá para terminar as fases sozinho (trocando de personagem dependendo do obstáculo) ou em uma equipe de até quatro jogadores.

Sim, mesmo tendo apenas 3 personagens, Trine 4 oferece uma opção de “multiplayer ilimitado” em que até quatro jogadores, localmente ou pela internet, podem simplesmente selecionar quaisquer personagens a qualquer momento. Isso dá outra cara para a maioria dos puzzles e possibilita até novos tipos de soluções que não seriam possíveis jogando sozinho ou no esquema “tradicional” de cada jogador selecionar um personagem diferente. É uma opção muito bem-vinda e altamente recomendada.

Eu me diverti bastante com Trine 4, mas a sensação de “eu já vivi isso antes” foi forte durante quase toda a jogatina. É um jogo muito bem feito, muito bonito, muito divertido, e com um multiplayer cooperativo (principalmente no novo “modo zoeira para até quatro jogadores com personagens iguais”) que é realmente muito bom, mas não teve jeito: Trine 4 é sim mais do mesmo. Com um pouco mais de ousadia e sem se apegar tanto ao passado glorioso, o game poderia se destacar mais em frente a outros títulos de plataforma.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024