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Alguém se lembra de como foi o ano de 2009 para os games? Para mim, aquele foi o segundo ano da avalanche de jogos independentes e criativos depois que Braid chegou ao mercado no ano anterior. Não me entendam errado, já que games independentes sempre existiram, mas naquele fim de década parece que o mercado e os jogadores finalmente descobriram o valor deles. Entre Braid e Limbo, um certo jogo chamado Trine chamou a atenção não apenas por ter quebra-cabeças criativos e controles absolutamente excelentes, mas também por ter buscado um estilo 3D e com personagens feitos com polígonos em vez da arte totalmente 2D de outras produções.

Até hoje, Trine e Trine 2 mantêm algumas das avaliações mais altas por parte dos jogadores no Steam, e ambos foram sucesso quase que absoluto por parte da crítica especializada. São dois clássicos feitos por um estúdio que, hoje em dia, depois de todo esse sucesso, ainda faz jogos com uma equipe de menos de 100 pessoas – uma mini-equipe em tempos que grandes produções têm mais de mil colaboradores envolvidos.

Os mesmos Trine de sempre

Para quem não lembra ou não jogou, o primeiro Trine era um jogo de quebra-cabeça e plataforma em rolagem lateral. Os três personagens jogáveis (o mago que pode criar caixotes, a ladra que atira flechas e o cavaleiro que tem um ataque com espada) podiam combinar habilidades para transpor quebra-cabeças do tipo colocar a caixa em cima de um switch que ativa uma porta, para ladra conseguir acertar uma corda do outro lado ainda com a porta aberta… coisas desse tipo.

Trine 2 seguiu a fórmula, mas com puzzles mais bem elaborados, enquanto que o terceiro game tentou ousar demais dando liberdade de movimentação em 3D pelos cenários.

Imagem do jogo Trine: Ultimate Collection
Sai ano, entra ano, e Trine 1 continua bonito demais.

Agora, dez anos depois, Trine: Ultimate Collection chega como a coleção definitiva, com todos os seus altos (Trine 1 e 2) e baixos (Trine 3) totalmente intactos, e talvez isso seja o calcanhar de aquiles dessa coletânea: não há absolutamente nada de novo nos games. O ponto positivo é que, dessa forma, é possível perceber (e valorizar) ainda mais todo o esmero com que a FrozenByte desenvolveu esses games. Sim, os bons e velhos Trine parecem atuais ainda hoje, um feito e tanto se pensarmos que alguns jogos “triple A” que saíram mais ou menos naquela época têm mecânicas consideradas ultrapassadas.

Deu preguiça de melhorar os gráficos?

Se na parte gráfica o Ultimate Collection não trouxe nada de novo, em matéria de conteúdo também. Os Trine 1 e 2 vieram baseados em suas versões “definitivas” já lançadas anteriormente. Dessa forma, Trine 1 é a Enhanced Edition (basicamente o primeiro Trine, mas utilizando o motor gráfico de Trine 2), Trine 2 é o Complete Story que vem com o DLC Goblin Menace, e Trine 3: The Artifacts of Power é a edição padrão que ninguém gostou mesmo.

O Switch fica numa situação interessante porque Trine 1 e 2 foram lançados entre o fim de 2018 e começo de 2019 e acabaram sendo relançados agora, alguns meses depois, e oferecidos de forma que basicamente obriga o jogador a comprar o pacote completo caso ele queira apenas o Trine 3.

Um dos trunfos da série é certamente a parte gráfica. Dez anos atrás, o primeiro Trine já era bonito demais, e a direção de arte no geral sempre foi bem competente, com um uso legal da paleta de cores e do blooming em objetos mais brilhosos (lembra como elementos coloridos se destacavam muito mais em relação ao cenário?). O fato dos jogos não parecerem ter envelhecido artisticamente é um ponto bem positivo. Por sinal, faz tempo que eu não vejo jogos que combinem tão bem os elementos claros e escuros dos cenários como Trine.

O mago Amadeus não é muito ágil, mas conjura caixas como ninguém.

Se a direção de arte não precisa de retoques, tecnicamente os games poderiam ter recebido um tratamento melhor. Com exceção da resolução (que, pelo menos no Xbox One X, parece ser apenas 1080p; ou seja, quem tinha um PC legal na época já rodava os games nessa resolução), toda a modelagem dos cenários e personagens é a mesma de sempre. Pelo menos todos os jogos rodam a suaves 60 quadros por segundo e sem quedas evidentes.

Trine: Ultimate Collection segue o exemplo de outras compilações (como a de Shenmue ou a edição Redux da série Metro) e traz uma instalação apartada para cada um dos games, para alegria dos acumuladores de conquistas e troféus (e eu me incluo nessa), e para alívio para quem de repente precisar desinstalar um ou outro jogo para liberar algum espaço no HD.

O Ultimate Collection vem com o novo Trine 4: The Nightmare Prince, o que não deixa de ser uma escolha estranha, principalmente porque quem nunca jogou a série pode acabar começando pela quarta versão e, quando for comprar os outros através da coleção, ficar com aquela sensação amarga de ter pago duas vezes pelo mesmo game. Eu penso em quem já comprou Trine 1 e 2 no Switch e vai precisar comprar a coleção inteira caso queira apenas adicionar Trine 3 e 4…

Por algum motivo, Trine 3 parece melhor hoje do que quando saiu.

Eu dei essa volta toda para dizer que não, Trine: Ultimate Collection realmente não traz absolutamente nada de novo para os games antigos. Nenhum dos quatro games é otimizado para o Xbox One X (falta confirmar se vale o mesmo para o PS4 Pro, mas tudo me leva a suspeitar que sim) e, apesar dos jogos serem bonitos o suficiente, só um tratamento 4K ou próximo disso elevaria o nível técnico graficamente falando.

Roupas diferentes para personagens, fases secretas, fases inéditas, comentários dos produtores, galerias de arte, bibliotecas de música, opções de “retroceder”, reloginho de speed run… nada disso, galera: pegaram os Trines, enfiaram nas lojas digitais e estão cobrando caro por isso. Os games são excelentes? São sim. Tão excelentes que a vontade é de conhecer mais e mais sobre a série, e infelizmente a Frozenbyte optou por perder essa chance.

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