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Minimalista, profundo, sombrio e cheio de mistérios. É assim que posso descrever Unto the End para vocês, o mais novo jogo da 2 Ton Studios. O título pode passar longe do seu radar, porém, não se deixe enganar pelo mesmo não chamar muita atenção. Mesmo que não estivesse de olho, quando ele caiu nas minhas mãos, tive uma das maiores experiências em videogame que poderia ter imaginado ainda em 2020.

Eu caí. Levantei, lutei. Avancei. Descansei nas fogueiras. Podem parecer coisas simples, mas conforme você conquista estes momentos em batalhas super acirradas, aproveitará isto de formas que nem imagina. São poucos os instantes de paz, assim como temos na vida adulta, infelizmente. Mas a forma como tudo se apresenta, como o gameplay te incentiva, te fará buscá-los a todo custo na sua jornada para chegar em casa.

Brutalidade e sensibilidade

É fácil traçar paralelos para Unto the End. Dificuldade extremamente elevada, confere. Fogueiras que permitem descansar, se curar e treinar, confere também. Inimigos cujos movimentos te matariam num hit, encontrará por aqui da mesma forma. Para alguns isso remete à Dark Souls. E o jogo não nega a sua inspiração, mostrando que os desenvolvedores são fãs do trabalho feito pela FromSoftware.

Porém, as semelhanças acabam por aí. A jornada do gênero plataforma é sobre um homem adulto que tenta retornar ao seu lar, onde estão sua mulher e filho. Porém, vários monstros selvagens estão em seu caminho, quais serão um verdadeiro desafio enquanto avança. Munidos das mais distintas armas e habilidades, espero que esteja avisado da imensa dor de cabeça que terá para vencê-los.

Imagem do review de Unto the End
Esses bichos dão um trabalho que você nem imagina.

E não digo isso de uma forma ruim, por mais contraditório que seja. Você morrerá inúmeras vezes para aprender os movimentos que seu oponente utiliza, voltará e terá uma nova chance de vencer até conseguir. Simples assim. E, sendo sincero, não vai ter um combate que você entrará e pensará que é impossível a vitória. Mesmo não dando um hit sequer, você enxergará um ponto fraco ou uma estratégia.

Mas não é aí que Unto the End brilha. Apesar de eu ter dito, até de forma repetida, que ele é minimalista e simples, os detalhes que vão te cativar e te fazer voltar àquele universo. Um dos exemplos que não poderia deixar de citar e que me tocou de forma profunda no jogo, foi quando encontrei no caminho uma vila dos monstros que estava enfrentando completamente devastada. Corpos por todo o cenário. Um deles estava de pé, empunhando uma arma.

Imagem do review de Unto the End
Às vezes vem mais de um para cima de você. E aí?

O que todo gamer faria? Derruba esse último e segue em frente. Sem tempo, irmão. Porém, se você parar por um segundo vai perceber que ele não avançou para cima do seu personagem. Em sinal de respeito, eu abaixei minha arma. Vocês não tem ideia no tamanho da humanidade que me abateu quando ele largou a dele também, se ajoelhou perante um dos corpos e o segurou em seus braços. Meu, eu não acreditei.

Vamos colocar um ponto aqui, onde já se viu misericórdia no mundo dos jogos? A opção de não ser violento ser recompensada de uma forma tocante? Geralmente o inimigo que não derruba, estará lá para te derrubar depois. Este não, você sente. E o que eu faço? Chego nele, me ajoelho junto e por alguns segundos me sinto conectado à esta bela trégua.

Imagem do review de Unto the End
Em outras, você terá uma trégua e poderá não ser agressivo.

Isso rolará o tempo todo? Obviamente que não. Afinal de contas, estamos falando de sobrevivência por aqui. Mas não é o único momento que perceberá que alguns não estão tão dispostos a arriscar a própria vida ou tirar a sua. Demora um tempo para você reparar nisso, às vezes eles só estão atrás de um item que basta oferecer e estará tudo certo. Porém, foi uma ótima sacada da equipe e que me fez repensar todas as minhas escolhas.

Realismo em Unto the End

O ritmo também é mega importante na jornada. Tem golpes que te matarão numa só, não te dando tempo nem de piscar. Outros que te causarão um dano onde, mesmo após a sua vitória, você continuará sangrando pelo caminho até cair morto em qualquer lugar do chão. O mesmo vale para os inimigos, o que torna a experiência em algo ainda mais crível do que a maioria dos indies que já conheci até hoje.

Imagem do review de Unto the End
Mesmo após uma batalha, você pode morrer com os ferimentos.

É muito difícil vermos certo realismo em jogos do gênero, ainda mais quando vemos inúmeros contando com várias habilidades e poderes disponíveis para ajudar na aventura. Aqui não, você puxa a espada para lutar e desfere um golpe ou rola para desviar e sua tocha, qual estava segurando em outra mão, cai. Se você pula errado e cai, o adversário pode te atacar no chão mesmo. Isso quando não agacha para desviar de um objeto e, com o timing errado, acaba morrendo ali porque já miram para baixo.

Esse realismo se reflete em todo o título, o que pode parecer um fator limitador para alguns ou um toque de maestria da equipe de desenvolvimento para outros. Vamos pontuar, todos sabemos o quanto é difícil vermos um jogo realista em universos 3D e com alta definição. São raros os que se aproximam disso. Você consegue imaginar a dificuldade ao fazer isso num jogo 2D, todo desenhado à mão? Se não, muito menos eu e é aí onde dou todo o mérito para a 2 Ton Studios. Os caras arrasaram.

Imagem do review de Unto the End
Você esperaria realismo de um jogo assim?

Sem diálogos ou qualquer elemento que te explique exatamente o que esteja rolando, Unto the End conta com a sua capacidade de compreender as entrelinhas. Se você é do tipo avoado ou que não capta as coisas no ar, já aviso de antemão que entenderá pouco do que está realmente rolando.

Porém, se você estiver disposto a se aventurar junto ao pai de família, descobrirá que nem tudo é uma delícia. Apesar de ser uma jornada profunda e cheia de nuances e dificuldade, o jogo é curtíssimo. Em questão de seis a oito horas, variando com o seu desempenho e da quantidade de vezes que sucumbirá à batalha, finalizará a história. Não tem conteúdo pós-game ou uma opção com mapa ou que te motive a revisitar certas localidades.

E, apesar do charme visual, o jogo inteiro se passa na absoluta escuridão. Alguns momentos você sobe para a superfície, repleta da luz do sol e da neve branca. Mas na maioria, meus amigos, são cavernas e buracos onde você terá apenas 1/5 da tela iluminada que permite enxergar algo. Isso é parte da atmosfera que eles desejam passar, mas um conselho de amigo, não jogue ele com sono.

Imagem do review de Unto the End
Em esmagadora parte do jogo, o cenário é assim.

Porém, isso não funciona apenas como ponto negativo. Várias vezes eu avançava nos ambientes tenebrosos e escuros, ouvia o grito de algum monstro e parava de forma congelada. Ou não enxergava uma armadilha de forma clara e morria para um simples artifício do cenário. Nesse ponto, eu achei bem interessante e bem-utilizado, por mais que não tenha gostado de ter apenas um pedaço da tela.

Unto the End é um jogo que vai exigir mais do que você imagina de suas habilidades e capacidade de compreensão, mas que tem um visual simples e um enredo principal que não deixará muitas brechas para te confundir. Após chuvas de sangue e destruição que 2020 trouxe, seja nos games ou fora deles, ele é uma ótima pedida para você reavaliar como enxerga essa questão da violência no cenário e que nem sempre precisamos de uma saga megalomaníaca para nos tocar.

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