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Gaia, a mãe Terra, sofre nas mãos de grandes corporações. Sua energia vital se esvai gradativamente, porém, cada vez mais rápido. A Pentex, uma multinacional, se utiliza do Wyrm – uma forma cósmica de caos e destruição – para se apoderar do poder telúrico. Em Werewolf: The Apocalypse – Earthblood, nosso papel é impedir este processo.

O novo lançamento da Cyanide Studio – responsável por jogos como Blood Bowl 3 e Call of Cthulhu, distribuído pela Nacon – empresa francesa com foco na produção de periféricos, mas com tentáculos na distribuição dos jogos, é baseado no sistema de RPG de mesa de mesmo nome, do universo de World of Darkness.

Vira, vira, vira homem

Se fizermos uma enquete, uma pesquisa global sobre entidades mitológicas mal-aproveitadas dos videogames, minhas fontes informam que lobisomens (sejam machos ou fêmeas) estariam ocupando a primeira posição de cerca de 64,82% das respostas. Tais respostas me deixam profundamente confuso sobre porque existem tão poucos jogos de lobisomens. Werewolf: The Apocalypse – Earthblood pode ser uma resposta.

Imagem de Werewolf: The Apocalypse - Earthblood
Um nível de qualidade de texturas impressionante.

Em um universo onde existem jogos como Carrion e Ape Out, pensar em realizar um projeto onde o personagem principal é um homem-lobo de quase três metros de altura com garras e dentes afiadíssimos é praticamente ser arquiteto de obras-prontas. Mas Werewolf: The Apocalypse – Earthblood surpreende. Te tira da zona de conforto. E não de um jeito bom.

A experiência que começa bem com uma cutscene interessante e bem trabalhada – levando em conta que a dublagem super canastrona é proposital, além do roteiro digno de Sharknado – rapidamente fica cômica, para não dizer deprimente, assim que o controle é deixado na sua mão.

Me parece que todo o orçamento de Werewolf: The Apocalypse – Earthblood foi gasto na abertura. Não que tenha sido tanto dinheiro assim, algo como se quem fosse o responsável por esta parte fosse o sobrinho talentoso. Já o resto, foram os sobrinhos que – digamos – não são as lâmpadas mais brilhantes das respectivas caixas. Mas o susto mesmo chegou na hora de jogar.

Antes disso, o protagonista Cahal pode tomar 2 formas além de humano, como é habitual. Humano para interagir com computadores, portas e outros humanos; lobo para se esgueirar pelos cantos, canos e caixas; por fim – o que interessa de verdade – a forma Crinos, o famoso lobisomem, para descer o cacete em qualquer coisa que se mexa. Eu até entendo ter um interesse por uma forma lupina – nada que Okami já não tenha feito suficientemente bem – mas nada me convence que eu gostaria tanto de uma sessão como humano tal qual eu gostaria de encarnar um lobisomem. Assim como na vida: menos homem, mais lobo.

Imagem de Werewolf: The Apocalypse - Earthblood
O nome dele só pode ser Pé-de-pano!

Acertos e muitos erros

Eu não vou nem entrar profundamente no quesito narrativa. O grande pivô da história é o reencontro do pai com sua filha “perdida”. Que, na verdade, só está perdida porque este mesmo querido pai decidiu despirocar e sair vagando pelo mundo quando a menina mais precisava. E agora ainda quer pagar de sofrido buscando redenção. Já deu de pai ausente pagando de sadboy, né?

Mecanicamente, a jogabilidade do lobo é a melhor. O que não é lá um mérito considerando que aqui essa versão só faz andar em tubulação de ar. Literalmente, não dá nem para atacar ninguém, arrancar um braço, deixar uma cicatriz emocional permanente.

Estar na pele de Cahal como humano é tão decepcionante quanto o esperado. Humano medíocre, ações medíocres. Tendo essa forma o foco na parte stealth do jogo, os movimentos são rígidos, os inimigos se dividem em legalmente cegos ou radares ambulantes. Os raios de visão dos adversários não são claros e a movimentação de Cahal é lenta e desagradável, fazendo com que toda a experiência stealth seja descartada tão cedo quanto possível.

Imagem de Werewolf: The Apocalypse - Earthblood
Taí algo que é mal utilizado.

Aí chegamos na grande promessa de Werewolf: The Apocalypse – Earthblood, jogar como um lobisomem. E que tristeza. A parte que cabe ao membro mais agressivo desta tríade é o combate. Situações confusas, mais inimigos do que é possível entender com a interface oferecida, ataques ineficientes por parte do homem-lobo. Acabou que, incrivelmente, conseguiram fazer com que ser um lobisomem e destroçar paramilitares hipercapitalistas seja desagradável. E ainda estou tentando entender como.

Por fim, Werewolf: The Apocalypse – Earthblood reúne um conjunto de partes desagradáveis e desconexas, em um pacote que parece ter sido deixado por engano na porta de casa. A experiência que tive com ele me lembrou uma outra que tive há muito tempo com Fighting Force… 2. E eu odiei Fighting Force 2. Werewolf: The Apocalypse – Earthblood seria, no máximo, um jogo medíocre de PlayStation 2.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024