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A Armature Games saiu um pouco dos jogos de ação para mergulhar direto nas escolhas narrativas, como seu novo lançamento Where the Heart Leads. Levando o jogador para questionar tudo que faz das nossas vidas aquilo que é atualmente, você embarcará na jornada de Whit, um cara comum que vive com sua esposa e filhos em uma cidade pequena do interior dos Estados Unidos.

O nosso protagonista revisitará todos os períodos de sua vida para compreender melhor como as decisões que tomou o levaram até o ponto atual, onde ele cai num imenso buraco que se abriu no quintal de casa. Desde os principais pontos da infância, você também passará pela conturbada e confusa adolescência e seus amores, assim como a atarefadíssima e pesada fase adulta.

Faltou personalidade

Vou ser direto e reto quanto aos meus sentimentos em relação a Where the Heart Leads, a história não é nada ruim, passa bem longe disso. Você até se comove em alguns pontos, o estúdio te faz compreender melhor os sentimentos dos personagens ao redor e a escalada emocional tem seu ápice em certos momentos que farão até o coração mais frio se amolecer. Neste ponto, o título realmente alcança aquilo que busca dos seus jogadores e atingirá em cheio.

Imagem do review de Where the Heart Leads
Whit, ao contrário de seu irmão, é um completo banana.

Porém, Whit, o personagem principal, é o cara mais bunda mole que já vi em toda a história dos videogames. Não há um traço forte de gênio nele, o ápice da revolta do nosso herói é dedurar os esquemas financeiros do pai para a sua mãe. Ele não “mete o louco” nem uma vez, não solta uma patada monstruosa nem nas conversas mais tensas ou há uma decisão para largar tudo e viver como o irmão vendendo arte na praia.

O protagonista de Where the Heart Leads me lembra muito o Adam Sandler naquele filme, Click. É só alguém vendo a sua vida passar pelos seus olhos sem mover um dedo para fazer algo de realmente impactante por si mesmo ou pelas pessoas ao redor. Mesmo que algumas escolhas sejam controversas, como ficar ao lado da esposa ao invés de auxiliar o irmão, sempre há uma ótima razão para isso por trás. Nunca é algo simples como “eu quis fazer deste jeito” sem uma razão nobre por trás.

Sim, eu compreendo que ele tem uma régua moral muito atenuada para o lado “correto” da vida, mas a única falha de caráter dele que percebi durante o gameplay foi tentar convencer a mulher a não trabalhar com o prefeito da cidade por ele ser um ex-namorado dela. Isso se você quiser impedi-la, claro. Aí quando você conversa com o cara, que é incrivelmente uma pessoa bacana, ainda há a opção de pensar “odeio o jeito dele”. Nossa, radical mesmo hein amigo?

Imagem do review de Where the Heart Leads
Rene é um baita partidão, mas casar com ela não torna a vida fácil.

Apesar de já iniciar este texto jogando uma pedra imensa no nosso herói, os personagens secundários são extremamente interessantes. Sege, o irmão mais novo dele, é uma pessoa que nunca se preocupou muito com o mundo ao redor e quis viver de seu dom artístico. Rene, a esposa, tem uma personalidade bem forte e toma a frente de tudo para proteger as pessoas que ama. Até as crianças, os filhos de Whit com ela, tem um background rico para você gostar delas.

Um dos maiores problemas de Where the Heart Leads é não lidar, do ponto de vista narrativo, com nada que realmente mude tudo conforme segue a história. Todas as conversas, pontos de vista e tramas são normais demais para você se sentir indagado a persistir até o fim. Ajudar os vizinhos, ouvir os sermões do pai, avisar sobre as presepadas do irmão, pagar contas, dar uma bronca nas crianças, tudo é mundano ao extremo e não dá aquele impacto que dê o “UAU”.

Imagem do review de Where the Heart Leads
Nenhum problema impactará assim, é tudo mundano demais.

Você enfrenta micro-mudanças, mas nada que realmente seja completamente inesperado dentro do que apresentam. Perdão pelo spoiler, mas há um acontecimento onde você escolhe entre dedurar um crime que seu irmão cometeu ou não. Jogando no seguro, resolvi que devia falar sobre com um adulto, até pelo jovem não ter a menor noção de responsabilidade. Mesmo com uma grande briga e discussão, um diálogo duro e tudo mais, eles crescem sem a menor sombra de ódio ou rancor pelo ocorrido. Não que eu queira separar famílias, mas na vida real não é assim que funciona?

Limitações de Where the Heart Leads

A impressão que tive é que a Armature Games, apesar dos vários finais prometidos para a sua história, tinha um roteiro de onde começar e como queria terminar e vai te induzindo, pelas entrelinhas, a tomar decisões que não mudem tanto assim o status quo deles. Aprecio isso, já que eu realmente gostei de muitos diálogos e de algumas viradas emocionais. Porém, a experiência foi muito mais arrastada e cansativa do que eu esperava que fosse.

Imagem do review de Where the Heart Leads
Em que ponto da vida eu fiquei pendurado numa banheira assim?

Neste sentido, Where the Heart Leads passa bem longe de outros jogos de múltiplas escolhas como Detroit: Become Human ou até mesmo os que conhecemos da Telltale Games. O problema não é a própria história, mas sim a ausência de algo que realmente atinja o interesse dos jogadores pela sequência de toda a trama. Perdão, mas ver um homem sair de um buraco colossal em seu quintal enquanto revisita os principais eventos de sua vida não soa tão empolgante quanto parece.

Outro ponto que incomoda bastante durante o gameplay é TODOS os personagens serem apenas um vulto. Eu compreendo que existe um sprite fora dessas visões do passado, mas incomoda passar horas vendo figuras sem rosto, sem cores ou absolutamente nada que dê uma proximidade a eles. Isso tira grande parte da identificação do público, imagina receber uma frase de impacto de uma figura sem qualquer tipo de singularidade…como os Gen Z dizem, é cringe demais.

Imagem do review de Where the Heart Leads
Esses vultos das pessoas incomodam demais por sua presença.

Isso sem contar sobre a demora absurda da tela de loading de Where the Heart Leads no PlayStation 4. Ele leva o tempo que um Cyberpunk 2077, The Witcher III e GTA V carregam, para ter uma ideia. Aí você vai ver no próprio jogo e não tem absolutamente nada que justifique isso. E não me venham falar que no PS5 é mais rápido, mas isso não significa que no seu antecessor precisa ser extremamente mais lento também.

Fora essas escolhas infelizes de direção e performance, graficamente ele é muito bonito e se assemelha bastante a um grande quadro pintado. Adorei em alguns momentos estar sem nada da interface, só o cenário e você ali observando tudo. Como o irmão de Whit é um artista nato, em uma das linhas do tempo há várias esculturas espalhadas no meio de um monte de árvores e dá a impressão de um ambiente distópico, quando na verdade foi apenas um cenário de suas escolhas.

Imagem do review de Where the Heart Leads
A arte é impressionante e vai deixar muita gente babando.

Se gosta de ler bastante, aqui também será a sua praia. Em Where the Heart Leads há muitos documentos e cartas escritas pelos principais personagens, dando mais conteúdo para você compreender melhor toda a lore envolvida em seu universo. Não são obrigatórios, antes que você comece a reclamar se não curtir a ideia, mas são interessantes e revelam muito mais do que isso tudo tem a oferecer fora da tela e da visão de Whit.

Mesmo que a experiência não tenha me agradado tanto, se você já estava inclinado a jogá-lo em seu lançamento, siga em frente. Ele chega oficialmente amanhã no PlayStation 4 e PlayStation 5, se você gosta de ver uma boa história aqui é um bom lugar para se olhar. No ponto de vista de questionar as escolhas que fizemos na vida e onde isso nos levou, ele cumpre muito bem o seu papel e até emociona em certos momentos.

Where the Heart Leads, apesar disso, conta com mais ressalvas do que eu esperava ver em um título feito para a mais atual geração. Eles atingem o seu objetivo, porém a jornada para isso que é o mais importante não parece te impactar o tanto quanto devia. Mergulhe, mas não espere que este buraco enorme que apareceu em seu quintal vá te levar muito fundo.

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