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Jogos viraram obras de arte ao longo dos anos. Artistas cada vez mais talentosos se envolvendo na criação de histórias profundas, dignas de verdadeiros filmes ou livros. Desenhos tão belos que parecem pinturas. Whispering Willows é uma honesta tentativa de chegar ao patamar de “jogo arte”, mas que falhou. O jogo é independente, produzido e distribuído pela Night Light Interactive. Lançado originalmente em 2014 pro falecido console android Ouya, ele recebeu versões para todas as plataformas atuais. No ano de 2018, chegou ao Nintendo Switch.  Tentando deixar o clubismo de lado, o híbrido da Nintendo parece o lugar perfeito pra jogar esse tipo de jogo.

No jogo, você assume o controle de Elena, uma garotinha que está procurando pelo pai desaparecido. Ela possui um amuleto que lhe dá o poder de tirar sua alma do corpo e acessar assim uma espécie de mundo espiritual, onde ela pode conversar com fantasmas e ver monstros até então invisíveis. Com essa mecânica em mente, você precisa explorar alguns locais dentro de uma propriedade: jardim, casa de hóspedes, mansão e etc. Em cada um você pega pistas, que levam a novos enigmas, que levam a outras pistas e, assim, a história de cada fantasma que você encontrou vai se encaixando, na busca pelo pai da protagonista.

Imagem do jogo Whispering Willows
Elena pode abandonar seu corpo, entrar no mundo espiritual e interagir com outros espíritos.

Tendo essa mecânica e essa premissa, o jogo tinha tudo pra ser excelente, mas já começa meio mal das pernas.  A movimentação da personagem é lenta e travada, com uma economia de frames pra fazer com que os passos sejam fluídos. O jogo é ambicioso demais, parecendo ter dado um passo maior do que as próprias pernas no desenvolvimento. Do lado de fora dos ambientes é possível correr, irritando bastante o fato de ser somente nesse lugar onde essa ação é possível, visto que o jogo segue a fórmula do “pegue um item aqui, leve pra lá, pra pegar uma chave, pra abrir aquela porta lá no inicio”. E se mover lentamente sem a possibilidade de correr não combina muito com esse leva e traz.

A arte do jogo novamente cai na ambição de ser mais bonita do que realmente é. Os cenários são muito bonitos, verdadeiras pinturas, mas quando entram as cutscenes, a qualidade cai drasticamente. As cutscenes são animações simples, feitas em cima de imagens estáticas. Isso por si só não seria um problema, diversas animações seguem esse padrão e, quando bem feitas, são bem agradáveis de se ver. Não parece que houve um controle muito grande de qualidade, visto que algumas animações estão ótimas … enquanto outras parecem ter sido feitas no powerpoint. A qualidade dos desenhos também sofre essa variação, por vezes sendo verdadeiras pinturas belíssimas e em outras parecendo ter sido feitos às pressas. A trilha é quase inexistente, mas quando aparece não chega a ser marcante. Alguns detalhes de puzzles você precisa ficar bem atento ao som, o ponto positivo é que ele cumpre o seu papel de te orientar.

Imagem do jogo Whispering Willows
Existem pequenas fendas onde somente a forma espiritual de Elena pode passar.

O jogo tem grande foco na história e nos mistérios. É quase um jogo de terror, mas a lentidão das coisas praticamente anula qualquer possibilidade de se assustar durante a jornada. O jogo é curto, tendo levado pouco mais de 2h pra terminar da primeira vez. Na segunda vez, terminei em aproximadamente 1h. Os puzzles são por vezes desafiadores, incentivando a coleta de diversas anotações ao longo do jogo, algumas úteis para avançar nos enigmas, outras apenas complementando a história. Essa que, se não é das mais pobres do mundo, também não é das mais originais, com uma pequena reviravolta no final. Jogos nesse estilo geralmente tem histórias envolventes e cativantes, mas esse é apenas ok.

A ausência de um mapa pra se orientar dificulta bastante o jogo, mas não irrita. Apenas é um obstáculo a mais. Pausei uma jogatina antes de dormir e, ao retornar no almoço do dia seguinte, eu não me lembrava muito bem de onde estava e pra onde estava indo. Isso faz de Whispering Willows um jogo pra ser zerado numa tacada só, enquanto as coisas estão frescas na memória.

Whispering Willows traz uma proposta interessante, mas falha no excesso de ambição. Parece ter sido feito às pressas na época e não recebeu nenhum polimento adicional no seu relançamento pro Nintendo Switch, 4 anos depois. Não chega a ser um jogo ruim, longe disso. O jogo está com textos e legendas em português do Brasil. Quem curte visual novels, aventuras point-and-click e puzzles desafiadores onde ler é a maior arma, vai certamente gostar desse jogo. É uma pena que ele seja tão curto, fazendo o investimento nele ser maior na relação custo/benefício. Numa futura promoção, acho que vale a pena pegar pra jogar naquela viagem meio chata.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024