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Sou suspeito pra falar de jogos de FPS. De Wolfenstein então… Nunca vou esquecer da época em que jogava Wolfenstein 3D no MS-DOS, quando eu era um pirralho com uns 10 anos de idade. O game definiu o gênero de tiro em primeira pessoa e fez muita gente matar nazistas enquanto treinava as habilidades no teclado e mouse. A id Software acabou ficando famosa antes mesmo de lançar os clássicos Doom e Quake, e desde então sempre fui fã da desenvolvedora antes comandada por grandes nomes da indústria, como John Carmack e John Romero.

Wolfenstein II: The New Colossus chega como o terceiro game da nova safra produzida pela MachineGames e distribuída pela Bethesda Softworks, que adquiriu os direitos da franquia da Activision após o lançamento de Wolfenstein (2009). The New Order (2014) é incrível e entrega uma história e um vilão muito bem construídos, além de desenvolver melhor o protagonista William “B.J.” Blazkowicz. Já The Old Blood (2015) é uma prequel e expansão standalone de The New Order que, apesar de não evoluir suas mecânicas, homenageia e explora as ideias fundadas pelo clássico Return to Castle Wolfenstein (2001).

Com a chegada do terceiro Wolfenstein da Bethesda, faço um alerta importante: é essencial você ter jogado The New Order antes. Caso contrário irá boiar forte na história, não vai saber quem é quem entre os integrantes da resistência, muito menos ter alguma afinidade com o protagonista. Wolfenstein II: The New Colossus já abre com revelações bombásticas e que perderão o impacto se você não saber quem diabos é Frau Engel, por exemplo. Também não entenderá o porque da escolha entre dois personagens à beira da morte (Fergus e Wyatt), que altera completamente o rumo da história. Além do mais, esta análise será um grande spoiler pra você.

Frau Engel, a vilã em The New Colossus.
Frau Engel, a vilã em The New Colossus.

Bora matar uns nazistas

Quem acompanhou os trailers desde a revelação na E3 2017 sabe que a líder nazista Frau Engel não morreu. Ela será a pedra no seu sapato em Wolfenstein II: The New Colossus, promovendo o inferno contra você e seus parceiros. Em uma realidade em que os nazistas ganharam a Segunda Guerra Mundial, o plot é bem simples: livrar os Estados Unidos do nazismo. O que faz a história ser incrível são os personagens e a forma como as missões são conduzidas, sempre com humor na medida certa.

Antes de iniciar a campanha, rola um vídeo de “Anteriormente em The New Order”, perfeito para refrescar a memória. A abertura narra o passado de B.J. e volta para o presente, com o protagonista à beira da morte e sendo salvo pela resistência. Posteriormente, todo ferrado e numa cadeira de rodas, o jogador participa da ação exatamente nestas condições e tendo que livrar o submarino Martelo de Eva de uma invasão. Além de impressionar com o “gameplay sobre rodas”, o visual é de encher os olhos. Está insanamente bonito, principalmente na versão de PC (veja abaixo).

Antes de completar uma hora de jogatina, B.J. adquire uma armadura que, além de salvá-lo, oferece duas habilidades passivas: dar um pisão forte sobre estruturas frágeis, para abrir passagens, e uma corrida super rápida e sem limite de estamina. A evolução do personagem acontece através de objetivos comuns em multiplayer, como abater inimigos furtivamente, arremessando machadinhas, explodindo coisas pelo cenário, etc. Cada um destes objetivos evolui até o domínio 4 e desbloqueia vantagens como andar mais rápido agachado, aumento de munição, redução de dano, entre outros exemplos.

Boa parte do arsenal é introduzido logo de cara, sendo que apenas quatro armas são apresentadas posteriormente na campanha – também para equilibrar o desafio diante de inimigos mais fortes. São 11 ao total, sendo 4 delas armas pesadas. Uma delas, a Dieselgewehr, pode ser usada para abrir passagens pelo cenário derretendo metal. Exceto por estas armas mais poderosas, todas elas possuem três melhorias que podem ser feitas com kits encontrados pelas fases. São melhorias do tipo aumento de capacidade, tiro carregado, mira telescópica e algumas modificações mais interessantes, como munição de pregos e granada eletromagnética. Se por um lado o arsenal é bem básico, as armas se destacam pela criatividade no design, algumas delas sendo necessário carregar em estações de eletricidade e diesel.

Tela de arsenal, onde você pode fazer melhorias nas armas.
Tela de arsenal, onde você pode fazer melhorias nas armas.

Após a metade da campanha, B.J. ainda ganha a possibilidade de escolher entre três dispositivos táticos: Armadura Compressora, Ombreiras de Ataque e Locomotor de Batalha. Adoraria detalhar o que cada uma faz, mas seria um grande spoiler. A única coisa que posso dizer é: estes dispositivos, independente de qual escolher, abrem um novo leque de estratégia e exploração dos cenários. O legal é que mesmo com todo esse arsenal, melhorias e dispositivos, dá pra passar boa parte do jogo no modo furtivo. Eu mesmo dei preferência por eliminar os inimigos pelas costas, arremessando machadinhas ou dando tiros de pistola com silenciador ao invés de partir pra ação desenfreada. Colocando na balança, as duas formas de jogar são igualmente divertidas.

Ah sim, os inimigos continuam incríveis e com uma boa inteligência artificial. Há também novos robôs e os comandantes, que disparam alarmes de reforço e, ao serem mortos, derrubam códigos Enigma. Estes códigos são gastos em um terminal do submarino para decodificá-los e localizar übercomandantes em missões secundárias, acessíveis por um mapa de guerra no Martelo de Eva. Pra minha surpresa, estas missões são tão divertidas e criativas quando as da campanha principal, além de mais difíceis de concluir. Nelas você não mata apenas nazistas, mas também membros da Ku Klux Klan.

Tem coisa melhor que desintegrar nazistas?
Tem coisa melhor que desintegrar nazistas?

Wolfenstein II, um game recheado de vida

Voltando à trama, que acontece nos anos 60, é impossível não se surpreender com o carisma dos personagens. É muito gratificante interagir com cada um deles, inclusive com aqueles que você já conheceu em The New Order, como o cientista doidão Set Roth, o grandão Max Hass, e a charmosa e corajosa Anya Oliva. Aliás, ela é a motivação de B.J. nessa guerra, uma vez que está grávida de gêmeos. Após algumas missões, outros personagens se juntam à sua causa, como a sul-africana durona Grace Walker, seu marido Norman ‘Super Spesh’ Caldwell e a gordinha Sigrun Engel, filha bulinada pela vilã Irene Engel.

Há também vários personagens secundários para interagir. Todos eles, seja um NPC importante ou secundário, seguem uma linha cronológica de atividades e diálogos, sempre adicionando um ar de novidade à trama. O submarino não apenas reúne essa turma toda como apresenta uma galeria de tiro, vários easter-eggs e até um arcade chamado Wolfstone 3D, uma homenagem ao jogo original de 1992 e com fases inéditas. Dá pra perder altas horas jogando os 6 episódios dessa belezura!

B.J.: "Wow, estes gráficos são muito realistas, parece que estou dentro do jogo".
B.J.: “Wow, estes gráficos são muito realistas, parece que estou dentro do jogo”.

Com tantos personagens marcantes, uma boa dublagem em português era mais do que obrigatório. Felizmente, o trabalho foi bem feito aqui. Às vezes os diálogos saem de sincronia ou ficam muito baixos em comparação à trilha de fundo, mas nada que comprometa a experiência. Mandaram muito bem na escolha do elenco de vozes, principalmente para B.J., Set, Anya e Frau Engel.

Mas quem realmente rouba a cena a todo momento, sem sombra de dúvidas, é Grace Walker. Tanto na voz original em inglês quanto em português, ela dá um show de personalidade. Não dá pra negar o peso da personagem quando ela discute com outros, dá aquela zoada com o B.J. ou inferniza a vida de Sigrun Engel, que sofre bullying a todo momento.

Grace Walker, um mulherão da porra.
Grace Walker, um mulherão da porra.

Jogando do jeito certo

Quer jogar Wolfenstein II: The New Colossus do jeito certo? Então escolha a dificuldade “Manda ver!” (Bring it on!) ou outra mais difícil. Lembra quando comentei que no começo do jogo B.J. está numa cadeira de rodas? Seguindo a lógica, esta dificuldade te coloca na ação com 50% de saúde. Afinal de contas, o protagonista está todo fodido, mal de saúde. Mesmo ao pegar kits de primeiros socorros, sua saúde cai gradativamente até chegar novamente nos 50%. Isso adiciona dificuldade alinhada com a história, inclusive forçando o jogador a aprender as manhas da furtividade. Depois de um tempo esse quadro de saúde muda, mas a dificuldade ainda impõe certos limites.

Se não tiver robozão nazista, não é Wolfenstein.
Se não tiver robozão nazista, não é Wolfenstein.

Nesta dificuldade ou acima, também não dá pra encarar os inimigos diretamente. Não a todo momento, pelo menos. A Inteligência Artificial dá uma boa guinada e os soldados passam a atirar na sua cabeça com mais facilidade. Contra os robôs então, é melhor se esconder pra atacar somente quando não estiverem te atacando ao mesmo tempo. Eu morri várias vezes até o final do game, o que contribuiu para a experiência e diversão. Aliás, não há nada mais prazeroso que vencer as dificuldades impostas por um game, inclusive melhorando seus reflexos e raciocínio rápido.

Wolfenstein II: The New Colossus impressiona em tudo: a história, as reviravoltas, as cutscenes, os cenários, os inimigos, as armas e até as piadas são excepcionais. A campanha dura cerca de 14 horas, isso se você se dedicar a achar os colecionáveis: ouro, gravações, brinquedos do Max, cartas de estrelas (que são os desenvolvedores), cartas da morte e artes conceituais. Fora os jornais e documentos encontrados pelo game, todos os colecionáveis adicionam informações à trama, caso você queira se aprofundar.

Que mané Carpeado, eu quero mesmo é montar um Panzerhund.
Que mané Carpeado, eu quero mesmo é montar um Panzerhund.

Após terminar a campanha, você ainda pode continuar jogando as missões secundárias e as Crônicas de Liberdade (Máquina SAS, no menu principal), que prolongam a jogatina em pelo menos mais 3 horas. Junte isso às horas gastas no arcade Wolfstone 3D e você tem, pelo menos, 20 horas de diversão garantida. Com isso, só posso afirmar – com todas as letras – que Wolfenstein II: The New Colossus é o melhor jogo solo de FPS do ano. Não tem pra ninguém!

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